"German Faces", da artista americana Collier Schorr, foi a exposição que marcou o arranque do PhotoEspaña, o festival de fotografia e artes visuais da capital espanhola, que estendeu mais uma vez até ao Museu Colecção Berardo parte da sua programação. No último ano como comissário do festival, o português Sérgio Mah escolheu trazer a Lisboa o trabalho meticuloso de Schorr que aborda as marcas da história e da memória nos lugares e nos gestos do quotidiano.
Para Mah, que fecha o seu ciclo de três anos como comissário do PhotoEspaña com o tema genérico “Tempo”, Collier Schorr “é uma das mais importantes artistas da actualidade”. Faz parte de uma geração “que está a fazer um trabalho muito interessante na actualização do histórico”, utilizando “de uma forma muito particular os cânones artísticos para abordar grandes questões da história”.
Na sua última exposição, um percurso temático e formal pouco linear, Schorr (de ascendência judaica) convoca símbolos do passado nazi da Alemanha para questionar a forma como essa referência histórica ainda influencia a vida quotidiana e para perceber de que modo desperta expectativas, traumas e temores. Ao lado de retratos de rapazes fardados e com símbolos que nos ligam a um momento histórico preciso e dramático há imagens de momentos indefinidos no tempo e de objectos do quotidiano que dão referências abstractas e abrem campo à especulação e à dualidade de sentidos. Numa das imagens da série que mostra flores suspensas na paisagem por linhas, o bucolismo das diferentes cores e da claridade solarenga esconde o peso simbólico de fardas nazis e material de guerra que ali foi enterrado por um ex-militar. “Este é um lugar estigmatizado pela memória, guerra, nacionalismo, emigração e reconstrução social, ou seja, uma realidade marcada pelo seu tempo que a artista procura explorar de forma a fazer emergir os seus efeitos psíquicos e sociais”, explica Sérgio Mah no texto de apresentação da mostra.
Durante uma visita à exposição com um grupo de jornalistas na véspera da inauguração ao público, Collier explicou que não está interessada em fazer um trabalho que espelhe simplesmente “a luta do bem contra o mal”. “As minhas fotografias têm muito de comentário. O meu trabalho não é sobre tudo e mais alguma coisa. Quero que as pessoas entendam aquilo que quero dizer sobre um tema.” E para tentar concretizar essa tarefa, Collier veste a pele não só de fotógrafa, mas também de antropóloga social, psicanalista, arqueóloga e contadora de histórias.
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